"Depois disso respondeu o Senhor a Jó..." Jó 38:1
Jó era um homem gentil, rico e de muitos amigos. Um personagem real que viveu no período patriarcal, tendo sido citado pelo profeta Ezequiel (Ez 14:14) e apóstolo Tiago (Tg 5:11). Acredita-se que ele era descendente de Naor, irmão de Abraão e que conhecia bem as promessas de Deus para seu povo, visto que, sempre se referia a Deus como El Shaday; forma hebraica para “ Todo Poderoso”. Esse modo de relacionar-se com Deus, indica reverência e dependência, Jó era testemunha do favor de El Shaday, a quem se mantinha fiel.
“Eis que temos por felizes os que perseveram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de tenra misericórdia e compassivo” Tg 5:11
A história de Jó é rica em poesia, uma demonstração de que é possível manter beleza em meio as mais terríveis assolações. Como pode um homem tão machucado pela vida manter viva a esperança de restauração? Jó não é um opróbrio, um monumento a miséria, tão pouco é sinônimo de pobreza, mas de um homem que sofre e ainda assim mantêm a fé. Ele é representação sublime e impactante de crueldade e beleza, de opostos que permanecem como incógnitas pontuando vida e morte. Em Jó, nos cercamos de questionamentos e também de respostas que permeiam os humanos: Por que sofrem os justos? Qual a origem do mal?
“Por que em vez do meu pão me vêm gemidos, e os meus lamentos se derramam como água?” Jó 3:24
“Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus, Vê-lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros o contemplarão“. Jó 19:25-27
Em Jó, se faz presente morte e vida, o estado último de “fim de túnel ” e de graciosa redenção. É a bondade de Deus sustentando o que parece desprovido de sustento, nos dizendo que não há acaso, nem vácuo no viver, mas que para tudo e todos existe propósito e através da fé no Redentor, o “impossível” se converte em milagre. E é especialmente sobre os milagres que advém da solidão que quero compartilhar nesse artigo.
Perguntas na multidão
O grande poeta e dramaturgo francês, Victor Hugo, também autor da obra Os Miseráveis, transmitiu em uma frase, o que seria solidão: “Todo inferno está contido nessa única palavra: solidão”. Penso que um público considerável de pessoas concordariam com ele e até o aplaudiriam. Solidão, é algo que incomoda porque o homem se completa, se realiza na convivência social. Solidão, portanto, pode ser sinônimo de fracasso.
Jó, experimentou a amargura da solidão. Ao perder todos os bens e ser privado da presença dos filhos, mortos um a um pela fúria do diabo, ele se viu doente e só, no que desabafou: Meus irmãos houveram-se aleivosamente, como um ribeiro, como a torrente dos ribeiros que passam,os quais se turvam com o gelo, e neles se esconde a neve;no tempo do calor vão minguando; e quando o calor vem, desaparecem do seu lugar. Jó 6:15-1. Jó compara seus irmãos a um ribeiro de águas consumidas pelo calor: evaporaram, sumiram.
Você já atravessou situação semelhante? Deixe-me lhe apresentar um caso que li recentemente. Trata-se do pastor Edward G. Dobson. Influente e cheio de amigos, dirigiu uma congregação de aproximadamente cinco mil membros, foi conselheiro de presidentes americanos e ícone de milhares de líderes. Hoje, tem por companhia: a solidão. Foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), também conhecida como doença de Lou Gehrig. Deram-lhe de 3 a 5 anos de vida e desde o diagnóstico, já viveu 11 anos.
“Eu fui de 100 quilômetros por hora a zero de uma hora para outra. Eu sei que soa um pouco sentimental… mas a verdade é que quanto mais eu vivo, menos as respostas eu tenho. As respostas desapareceram com a multidão”
Procuramos respostas na multidão, não é mesmo? Olhamos para os outros e eles nos dizem como estamos. O outro, acaba sendo nosso espelho. Se nos amam, estamos bem, se nos negam, abandonam, estamos mal, muito mal. Essa é uma realidade.
Respostas, na solidão.
Ao lermos o livro de Jó, percebemos claramente que na solidão ele teve a oportunidade de se achegar mais perto de Deus. Era Jó e Deus. Seus companheiros Zofar, Eliú, Elifaz e Abiúde tentaram responder e decifrar as causas do sofrimento, contudo não alcançaram o pensamento de Deus, nem foram capazes de confortar e intercederem por Jó. Deus sobre essa multidão que cercou Jó em seu leito, falou: “Minha ira se acendeu contra teus amigos porque não falaram de mim o que era justo, ora por eles, para que eu os perdoe” Jó 42: 7,8
O que aprendemos? As respostas que precisamos, não vêm das multidões. Estas, porém nos ensinam, na medida em que convivemos e também nos afastamos dela. Não estou a dizer que solidão faz bem ou que devemos procurá-la, de modo algum! O que digo é: homem algum é capaz de redimir, resgatar a alma do outro. É claro que nosso próximo pode ser, e muitas vezes é, instrumento de Deus para nos abençoar. Mas nossa força, fé, esperança, e toda expectativa, deve ser voltada para Deus. Ao agirmos assim, estaremos guardando tesouros na eternidade: “Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” Lc 12:34
Onde estava o tesouro de Jó? Por que ele venceu? Por que resistiu pacientemente? Eis a questão: jó estava firmado em Deus, por isso, não foi vencido pela solidão. Ao contrário: aprendeu com ela, se utilizou dela para crescer, ficar mais íntimo de Deus.
O pastor Edward G. Dobson. De quem falamos anteriormente, disse ter encontrado as respostas que precisava, na solidão: “Eu pensei que se eu soubesse que ia morrer, teria realmente lido a Bíblia e teria realmente orado como se deve. Mas durante anos o oposto era verdade. Eu mal tinha tempo de ler a Bíblia e tinha grande dificuldade de orar. Você fica tão sobrecarregado com outros compromissos que perde a perspectiva correta. Hoje não sou mais um pregador, me considero discípulo de Jesus e ponto final. Aprender um a um é tão importante quanto aprender com a multidão”
Através da vida de Jó, do depoimento do pastor Dobson e do meu próprio testemunho (encontrei a Deus na solidão) quero lhe desafiar a reservar tempo para ficar a sós com Deus. A dialogar com Ele, ler a Palavra, se deleitar com a oração. Deixe a multidão e se entregue ao colo confortável de Jesus. Deus quer nos ouvir, Ele quer nos curar, nos salvar de um mundo onde o pensamento imediatista impera. Peguemos a contra-mão da multidão que corre desesperadamente para agradar o ego. Há conforto na solidão, há respostas.
Se de alguma forma, você se sente só e abandonado, lembre-se: Deus esteve todo o tempo com Jó, Ele não o desamparou nem por um segundo, assim é conosco: “e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” Mateus 28:20. Encontremos propósito na solidão e não nos deixemos abater por ela.
A Alegria veio pela manhã
“Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus, dos que foram chamados segundo o seu propósito” Rm 8:28. Esse é um dos meus versos preferidos. Na verdade, ele não sai de meus lábios, porque o firmei no coração. Acredito nessa promessa e mesmo quando as coisas parecem ir de mal a pior, confio na provisão de Deus. Me entristeço e choro, mas (e graças a Deus por esse mas) na oração e na Palavra, recebo conforto e ânimo que não encontro em nenhum outro lugar. Aprendi a não buscar respostas na multidão. Sim, antes de me tornar cristã, o telefone era uma rápida “solução”, alguns minutos de conversa com alguém parecia resolver o sofrer; mera ilusão. Hoje, mesmo quando pareço em pedaços, tem alguém do outro lado da linha: “Wilma, preciso de uma palavra, você pode orar por mim?”. Deus nos consola, para consolarmos. O segredo? Ele nos molda na solidão.